Com que música? Reflexões sobre o repertório
- Renato Brito
- 3 de jun. de 2023
- 2 min de leitura

Uma das tarefas mais desafiadoras do trabalho de regentes de corais é escolher o repertório. Quais músicas serão cantadas no ano que vem? Será música popular ou música erudita? Serão arranjos corais ou música da literatura coral? Vai atender as demandas das
programações para as quais o coro é convidado ou vai seguir uma temática própria, um ciclo de obras academicamente direcionado?
A definição de repertório acaba traçando muito da rotina do grupo musical. Se a ideia for escrever arranjos originais para o grupo, deverá haver um esforço para escolher, criar, editar, ensinar e até mesmo publicar aquele material novo. Se a ideia for adaptar um repertório já existente, para realidade do grupo, além de possíveis mudanças no material musical, pode ser necessári
o fazer mover o coro do ponto onde está para o lugar daquele repertório. Outros corais podem servir de modelo, o que pode ser uma armadilha, porque a imitação de outros grupos pode roubar a originalidade do coro.
Regendo corais nas Igrejas Batistas tive oportunidade de usar o repertório religioso tradicional, dos hinários, que são publicações das editoras ligadas à Igreja. Considero os hinários verdadeiras enciclopédias musicais, organizados por autoria, história e teologia. Regendo corais na Universidade, a ênfase tem sido os arranjos corais da Música Popular Brasileira, passando por gêneros diversos, na tentativa de valorizar a música local, enquanto trabalhamos os fundamentos da técnica vocal.
Por vezes, penso estar me equilibrando numa corda bamba. Entendo a importância de esticar a corda da complexidade para levar os grupos com que tenho trabalhado a experimentar músicas novas e vencer os desafios dos repertórios. Entretanto, estou ciente que a presença de músicas que funcionam no primeiro ensaio, sem apresentar dificuldades para o grupo, resolvem aquela música que está faltando para fechar a apresentação e podem funcionar como uma chave de inclusão, para pessoas que estão chegando agora no universo coral.
Parece-me também que a variedade é muito bem-vinda. Vi corais executarem óperas em Festivais de música de concerto e esse mesmo coral, poucas semanas depois, executar, com franca comunicação com o público, os sucessos do grupo sueco ABBA.
Particularmente acho que quem rege não precisa ficar com a solidão de escolher o repertório sem a participação de outras pessoas. Tenho chegado a ótimos resultados, incluindo as pessoas que trabalham na monitoria do Coral da UFCA na escolha do repertório, considerando sempre as sugestões do grupo. A escolha de repertório pode ser uma troca dinâmica entre regentes, coristas, instrumentistas e público. As redes sociais podem ajudar nessa escolha com a interação dos/as fãs e seguidores/as do grupo. Atitudes monocráticas e falta de sensibilidade da gestão dos coros não ajuda muito.
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